Semana de quatro dias de trabalho realmente funciona?

Imagine trabalhar menos e ter mais tempo para atividades pessoais – sem ter, é claro, nenhuma redução no salário. Essa proposta tentadora está ganhando força ao redor do mundo e teve seu primeiro teste feito no Brasil.

O teste piloto contou com 21 empresas, que decidiram testar o regime de trabalho com um dia a menos na semana durante seis meses.

A pesquisa foi conduzida pela 4 Day Week Brazil, em parceria com diversas organizações e pesquisadores, incluindo a Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp).

O objetivo das empresas que aceitaram participar do teste no Brasil é melhorar o bem-estar dos funcionários e aumentar a produtividade das companhias.

“Acredito que essas empresas estão dando um passo importantíssimo para revolucionar o mundo do trabalho, possibilitando mudanças na forma de trabalhar, se tornando mais produtivas e saudáveis”, afirma Renata Rivetti, fundadora da Reconnect, empresa que trouxe o estudo piloto para o Brasil.

Como funciona a semana de 4 dias de trabalho na prática?

Depende da empresa. Existe uma tendência a se trabalhar de segunda à quinta, tendo a sexta-feira incorporada ao final de semana. Nessa modalidade, a prática da hora extra para compensar o dia de folga adicional geralmente não ocorre. Ou seja, trabalham-se 32 horas semanais.

Outras empresas, optaram por oferecer a quarta-feira como dia de folga aos colaboradores. O movimento ficou conhecido como No Work Wednesday, e já tem adesão de outras companhias ao redor do mundo, sobretudo na Austrália.

A decisão pela semana de 4 dias foi pautada ao perceber que os colaboradores se sentiam mais fatigados à medida que a semana chegava ao fim.

Como funcionou o teste e os principais resultados

O resultado do teste foi surpreendente: a produtividade aumentou para 71,5% dos participantes e o engajamento cresceu para 60,3%. E as melhorias não param por aí.

A fase de preparação ocorreu entre setembro e dezembro de 2023, com masterclasses e sessões de esclarecimento.

A implementação prática foi de janeiro a junho de 2024, com acompanhamento contínuo e sessões de apoio. Pesquisas quantitativas e qualitativas foram realizadas antes, durante e após o piloto para avaliar os impactos.

Os principais resultados

Os resultados indicam melhorias significativas em várias áreas:

  • Produtividade e engajamento: a produtividade aumentou para 71,5% dos participantes, e o engajamento cresceu para 60,3%.
  • Bem-estar: houve uma redução de 72,8% na exaustão frequente, 49,6% na insônia e 30,5% na ansiedade semanal. A média de horas de sono aumentou de 6,7 para 7,0 por noite.
  • Saúde: 7% avaliaram sua saúde física como boa a excelente, e 77,3% fizeram o mesmo para a saúde mental.
  • Trabalho e cultura organizacional: 2% perceberam melhorias na cultura da empresa, e 80,7% notaram mais criatividade e inovação.
  • Impacto social: 1% relatou melhor colaboração, e 71,3% mais energia para família e amigos.

O estudo continuará com monitoramento a longo prazo e a expansão do piloto para incluir mais empresas. Um novo piloto de seis meses está previsto para começar em 2025, com o objetivo de fortalecer a compreensão sobre a implementação da semana de quatro dias em diferentes contextos organizacionais.

“Está na hora de assumirmos que essa sociedade que não tem mais tempo para nada não é produtiva e está caminhando para o esgotamento. A semana de quatro dias traz mais produtividade, sustentabilidade humana e qualidade de vida”, diz Rivetti.